quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Outras Áfricas.

Ah pobre África
Quem derramou teu leite neste mar de nada?
Em que bolso fundo se escondem teus diamantes
E quem tão sem brilho
Deixou Os olhos de teus filhos?
Quem autorizou a fome a devorar teu nome
E fez dos teus caminhos uma viagem de encontro à dor?
Ó ébano, ó brilhante noite, ó matriz dos homens
Quem chancelou a cobiça, embaixatriz insone
A saquear tuas fontes de amor?
Ah minha reluzente negra, quem traficou meus ancestrais
A cristandade, a Companhia das Índias, a mercantil Europa?
Quem rasgou a tua roupa de leopardos e leoas?
Quem arquitetou desconstruído o teu futuro?
Quem mais selvagem que tudo a ti atribuído fez acreditar que todo mal
Todos os males, todas as maldades, que a ti fizeram, fossem assim admitidas razoáveis?
Que besta foi mais selvagem que todas as tuas feras?
Que sorridentes bocas foram mais vorazes que as presas de tuas panteras?
Que sinfônicas infernais tocaram mais alto que teus gritos ancestrais
Que doutrinas silenciaram tuas razões milenares
Que deuses maiores quebraram os arcos e machados dos teus guerreiros justos e audazes?
Que feitiçaria maior que a tua vaticinou teus males?
Quem tapou a boca dos teus ais
Oh minha negrinha, quão imenso é o continente que nos dói
Mas acorda, ainda há tempo
Escuta o canto do teu renascimento
Vem vindo o amanhã


Pelo site AMAFRO.

3 comentários:

Eleonora Marino Duarte disse...

como negra filosofica que sou, cantando os cânticos, aperfeiçoando meu iorubá, reverenciando orixás e energias, eu fiquei muito emocionada com a sua homenagem-protesto para a África. a África foi onde toda a vida humana se gerou...

você conhece a música do Milton lágrima do sul? mando a letra:

Lágrima do Sul
Composição: Marco Antônio Guimaraes e Milton Nascimento

"Reviver
Tudo o que sofreu
Porto de desesperança e lagrima
Dor de solidão
Reza pra teus orixás
Guarda o toque do tambor
Pra saudar tua beleza
Na volta da razão
Pele negra, quente e meiga
Teu corpo e o suor
Para a dança da alegria
E mil asas para voar
Que haverão de vir um dia
E que chegue já, não demore, não
Hora de humanidade, de acordar
Continente e mais
A canção segue a pedir por ti
(a canção segue a pedir por nós)
África, berço de meus pais
Ouço a voz de seu lamento
De multidão
Grade e escravidão
A vergonha dia a dia
E o vento do teu sul
É semente de outra história
Que já se repetiu
A aurora que esperamos
E o homem não sentiu
Que o fim dessa maldade
É o gás que gera o caos
É a marca da loucura
África, em nome de deus
Cala a boca desse mundo
E caminha, até nunca mais
A canção segue a torcer por nós"

um beijo poeta!

Eleonora Marino Duarte disse...

maninha.. eu tinha certeza que você aproveitaria ao máximo a poesia e as vísceras dessa música. quero ver você compondo também pois tenho certeza que existe uma forte cadência na sua letra e nela cabem muitas canções!

na nossa casa (minha e joice) a África sempre foi, mais que tudo, o berço certo para nós, negras por paixão a cultura e uma grande inveja da pele, estrutura, beleza, juventude e resistência das negras todas que conhecemos. não há outra coisa que nos cative mais do que as histórias e lendas da África. nossa mãe, uma filha de iansã, cultuava a umbanda e admirava o candomblé. herdamos a sensibilidade para perceber a força que a natureza tem! o primeiro homem e a primeira mulher nasceram no continente africano (a ciência já deu conta disso)e toda a vida do planeta veio de lá. a África é patrimonio da Humanidade e um dia toda a raça humana renderá homenagens ao povo mais antigo e corajoso do planeta!

um beijo bem grande para você, querida!

Mayra Kinte disse...

Oh, minha maninha!
Só tenho a dizer que cada vez mais gosto de ti e percebo que nos entendemos cada vez melhor!
Alguns questionamentos como estes já vieram à minha cabeça, e o resultado deles foi só mais um pouco de confusão dentro dela...ai, ai, ai...eu e meus questionamentos...

Te amo!
Suadades!

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